Algoz do Sangue - Conto

O conto a seguir é um pequeno mergulho na cabeça de um personagem ao qual criei para uma aventura de RPG de Super-Heróis mestrada por um amigo. Ash’Kathamet, deus demônio do primórdio, o algoz do sangue, adorado e temido, foi profundamente baseado na personagem Illyria da série de TV Angel e muitas similaridades poderão ser encontradas para quem já a viu. Assim como Illyria, Ash’Kathamet se vê em um mundo que desconhece e preso a uma forma humana. O texto narra seu estranhamento com a sociedade atual, com os comportamentos humanos e com a existência dos mutantes (afinal o cenário se dá na realidade dos quadrinhos da editora Marvel). Abram suas mentes para ver o mundo com outros olhos e divirtam-se.

Illyria Deusa-Rainha do Primórdio.




O Algoz do Sangue


Desde meu ressurgimento neste novo corpo, tenho vagado pelas vias construídas pelos humanos e cheguei a uma de suas cidades. Para mim o período pelo qual tenho feito isso é ínfimo, embora eu não seja capaz de defini-lo segundo a escala usada pelos primitivos. Humanos tentam mensurar, nomear, e diminuir a tudo, para que as coisas se tornem minúsculas o suficiente para serem compreendidas por suas mentes. Isso inclui o tempo. Tentam possui-lo, domina-lo, molda-lo.... No passado, julguei que no momento de meu retorno os humanos já teriam há muito se extinguido, porém eles cresceram em atrevimento e cobiça. Tentam agora mimetizar o poder de deuses aos quais desconhecem e não guardam nenhum respeito por.



 Eu pude observar que alguns dos primitivos se alteraram. Embora não possuam o sangue dos antigos, eles ainda têm uma conexão mais poderosa com A Existência do que os demais. Humanos capazes de conjurar fogo, caminhar sobre o ar, conjurar frio por suas mãos, dentre outras coisas, sem quaisquer usos de conhecimentos arcanos. Eles parecem ter se adaptado.... Evoluído. Mas ainda assim são os mesmos em seu cerne, iguais aos outros humanos, e não consigo enxergar a razão para que tenham tais habilidades. Todas essas criaturas vivem uma existência confortável, os demônios que cobriam a terra e escravizavam primitivos a seu bel prazer parecem ter sido reduzidos a poucas tribos, enfraquecidos e despidos do poder que lhes era infundido por meio do terror que incitavam. E agora mestiços se espalham pelo mundo, em quantidade tão grande quanto quando eu espalhava seus cadáveres sobre a terra em meu tempo.


Illyria não achou grande coisa.

Eu conheço o verdadeiro tempo e o tenho sob minha vontade, é desnecessário que me coloque a aprender da mesma forma que tais seres. Meu conhecimento compreendia tudo o que se havia para saber.... Eu já fui, tudo o que se havia para saber. Eu fui rei para um deus.... Ainda assim me vejo curioso acerca de como a terra chegou ao estado que se encontra... A maioria dos mestiços nem mesmo parece ter conhecimento de sua herança sanguínea, dos demônios que foram seus ancestrais. Outrora eu os mataria ao avistar, Algoz do Sangue, era então minha alcunha. Porém nos dias de hoje nada parece fazer sentido, não há significado nenhum no que antes fora a razão de minha existência. Ainda assim, uma coisa é clara: se os humanos e mestiços são aqueles que detém poder neste mundo, então eu tenho trabalho a fazer. Um Antigo deve governar. Nenhum deles sabe o significado do verdadeiro poder. A terra foi estilhaçada e dividida, cada um detém a um pequeno pedaço e, portanto, não possui nada. Eu tornarei a terra una novamente, como fora há millenia. Eu serei adorado, reverenciado e temido como outrora fui, e para fazê-lo eu tenho o tempo a meu lado. E com o passar dele resgatarei a plenitude de meu poder.

O Deus em sua forma atual.

Essa casca a qual habito é imperfeita. É fraca e não foi capaz de comportar toda minha grandeza. Uma falha pela qual meus sacerdotes serão punidos exemplarmente. Este invólucro sente demais. Carrega memórias e me faz experimentar sentimentos humanos. Eu observei o luto de um deles, pelo garoto morto que outrora fora o possuidor deste corpo. Eu senti a tristeza do humano chamado Dominic, que perdera seu melhor amigo.... Era como provar carvão em minha boca. Todas essas emoções e sentimentos tornam os humanos fáceis de se manipular. Eles me temem, facilmente se dobrando a minha vontade, mas nos momentos que não desejo tomar sua atenção para mim, me disfarço com formas que não os amedrontam e finjo ser o que nunca fui: inofensivo. É fácil fingir, deste meu nascimento no primórdio eu fora capaz de moldar minha aparência e me infiltrar, como se fosse outrem, onde bem quisesse. Eu era capaz de enganar a todos e forte para subjuga-los. Era assim que eu obtinha acesso a prole indesejada de outros deuses e tomava suas vidas como meu tributo. E por isso fui adorado e cultuado. Eu sinto falta de meus demônios e até mesmo dos primitivos, fortes o bastante, que foram meus sacerdotes e cultistas.

E sua forma humana. Inofensivo o bastante?


O genitor deste invólucro no qual a minha essência divina se encontra, é um detentor do saber, porém seus conhecimentos não me serviram o bastante. Ele não possui o que procuro e, portanto, sigo em busca de um templo do saber e algum sacerdote do conhecimento que me auxilie. Busco compreender o passado que não vi e o presente que não me pertence. O futuro, porém, é um só, e se torna cada vez mais próximo. Eu hei de recuperar minhas armas, meu poder e eventualmente minha forma, então o mundo irá uma vez mais tremer sob meus pés e todos saberão o nome de Ash’Kathamet


Comentários

  1. Eu até fiquei com um pouquinho de medo, mas aí eu me identifiquei tanto com o personagem... será que existe uma deusa-rainha dentro de mim? Ou um algoz, talvez? Hm... Interessante.

    ResponderExcluir
  2. Cara que muito fera, uma leitura rápida e empolgante. Curti!

    ResponderExcluir

Postar um comentário