Bater e/ou Correr


São cinco e meia da manhã e eu queria estar dormindo. Mas não estou. Aparentemente dormir é um privilégio para pessoas que não são assombradas por textos na madrugada, que começam a serem escritos na sua cabeça e só param de te atormentar depois que você os coloca no papel... Então, é melhor que eu dê logo a eles o que eles querem.






Bater e/ou Correr


Esse é o primeiro texto do ano para o blog. Eu tenho estado meio ausente, escrevendo moderadamente, mas publicando quase nada, o que significa que eu não fiz um recapitulado sobre 2015... E nem vou. Duas razões simples para não escrever sobre o saldo final do ano passado: 1) Ele passou. Graças a Deusa! Eu não aguentava mais! Deixa ele ir embora e nunca mais voltar, gente. 2) Do ponto de vista prático 2015 só acaba em Março, na minha formatura, então sem condições de escrever sobre o fechamento dele até lá. Engraçado que uns dias depois entramos no início do ano astrológico (quando o ano começa de verdade se você é de humanas, que nem eu), coincidência?



Enfim, o foco do texto não é esse. O que me fez insone nessa madrugada foi um tema específico: luta ou fuga. Ao longo do ano que passou (é.... ele ainda vai ser citado) eu fiz  novos bons amigos, que passaram a fazer parte do meu convívio diário. Quando se convive com alguém todos os dias você acaba aprendendo coisas novas (se não aprende, você esta convivendo errado. Conviva de novo), e passa a ver o mundo um pouquinho sobre a ótica do outro.  E essa noite eu comecei a ter alguns insights sobre batalhas. Eu não vou fundo para explicar o conceito, mas basicamente: Quando nossa vida é colocada em risco, nosso cérebro libera neurotransmissores que colocam nosso corpo no estado de luta ou fuga (fight or flight, para quem fez curso de inglês). É tipo quando você tá quase morrendo num jogo de luta e daí a barra de vida pisca pra você dar um especial e tentar se salvar.  Minha professora de processos neurológicos vai ter um infarto se algum dia ler isso.... Prossigamos.

Bater ou correr

Eu me peguei filosofando (sim, Bia. Aceito.), e estendendo esse conceito para nosso campo emocional diário. Os momentos nos quais nos sentimos acuados e ameaçados emocionalmente e nos preparamos para lutar ou fugir. Ao longo do famigerado ano de 2015, cercado de meus amigos, eu percebi que algumas pessoas a minha volta sempre fogem de determinada situação, embora lutem em outras. Percebi (com um mal-estar imenso) que algumas pessoas das quais gosto muito SEMPRE fogem de qualquer situação desconfortável. E aprendi que eu não acredito em fugir. Meu primeiro instinto quando há uma escolha racional a se fazer, é sempre lutar. E não estou dizendo isso de forma (auto) elogiosa. Eu sou meio tapado mesmo.


A verdade é que fugir, tirar seu time de campo, fazer uma retirada estratégica e viver para lutar outro dia, também resolve alguns problemas, mas perceber isso exige uma certa dose de humildade e sabedoria, a qual eu nem sempre tenho. Não só isso, eu também acredito que a razão para se evitar uma luta, conta muito. É por que é a coisa mais inteligente a se fazer? Ou é preguiça? Medo de ficar sozinho? Falta de autoconfiança? É como disse Jessica Jones: “Saber que algo é real te obriga a tomar uma decisão: Continuar em negação, ou fazer algo quanto a isso”. Eu sempre acabo querendo fazer algo e isso se estende para como eu incentivo as pessoas a minha volta a levarem suas vidas. Eu sou um guerreiro e incentivo todo mundo a lutar também, mas não adianta dar uma espada na mão de quem só quer fugir o mais rápido possível, lição a qual estou aprendendo.


Exemplo: Amiguinho está apaixonado. Eu digo para o amiguinho: “Se declare! Fale o que você sente, seja franco”, pois isso é obviamente o que eu faria. Amiguinho escolhe fugir e não falar nada. Crush do amigo começa a namorar. Amigo sofre por não ter dito nada. Eu digo eu avisei (sou esse tipo de pessoa. Me julguem). Exemplo 2: Outro amiguinho reclama de problemas em casa. Eu digo para o amiguinho começar um diálogo e questionar por que as pessoas estão agindo da forma que tem agido. Amiguinho decide fugir e só passar mais tempo fora de casa. A torta de climão só aumenta e começa a fermentar até o amiguinho ter de ir embora. Eu vivi as situações dos dois amiguinhos acima e tomei decisões diferentes. No primeiro caso o resultado não divergiu muito. Me lasquei e ganhei um coração partido, mas me consolei em ter sido verdadeiro com meus sentimentos e isso realmente me fez sentir melhor. No segundo caso o resultado foi positivo e o diálogo levou a uma resolução, por mais desconfortável que tenha sido.


Meu ponto não é se o certo é correr ou fugir. Na vida temos de aprender a fazer os dois. Se desse para resolver tudo no papo nos teríamos assistido Gabrielle: A Poetisa Pacifista no SBT e não Xena: A Princesa Guerreira. No entanto se enfiar em todo confronto que surja também não é inteligente. É exaustivo e você acaba por se machucar demais. E como de costume estou escrevendo o que tenho vivido na prática: Ninguém dá conta de vencer todas as batalhas, mas ninguém cresce evitando confronto a vida toda. Respeite seus limites, mas não seja refém deles.

Corre que deu ruim!!!


E nem é sobre confrontar os outros, as vezes o mais difícil é encarar a si mesmo e se colocar alguns limites (ou tirar outros tantos que te colocaram). Muitas vezes é mais duro perceber que você está gastando todo seu dinheiro com coisas supérfluas só para poder se sentir mais como um ser humano, ou que você não está bebendo por que gosta de bebida e sim por que não gosta de estar sóbrio, do que dizer umas verdades na cara de alguém que te atazana. Eu já ouvi gente dizendo que prefere ficar arrastando um relacionamento amoroso ruim até que o outro não aguente e termine, do que terminar ele mesmo, para evitar sentir a culpa. O que pode levar uns 20 anos, mas quem está disposto a evitar situações de confronto não liga.... E sempre tem aquele discurso de: “Falar não adianta” vindo de quem nunca tentou uma conversa adulta na vida. Querido, falar pode não resolver tudo, mas te garanto que se não adianta para o problema, pelo menos adianta para você criar um pouco mais de coragem, né? #StepUpForYourself


No fim das contas a ideia do budismo prevalece: tomemos o caminho do meio. Saibamos quando o confronto direto vai nos deixar estatelados no chão de tanta porrada que vamos levar, mas não deixemos que alguns hematomas nos tornem covardes demais para encarar nós mesmos ou nos impor perante aos outros pelo que acreditamos ou queremos ser. O mecanismo de luta ou fuga existe para manter nossa sobrevivência, mas nem tudo é vida ou morte. Viver é diferente de sobreviver, e para fazer o primeiro, não podemos seguir imaculados. Viver exige sangue, suor e lágrimas. Que personagem você quer ser na história da sua vida? O idiota imprudente que morre no primeiro desafio por achar que nada era perigoso? O Covarde que sobrevive até o final, mas que nunca fez nada digno de valor? Espero que nenhum dos dois, tem muito mais opções no meio disso. Eu tenho sido o 50 Cent, tomado um tiro atrás do outro, mas aprendo rápido e prometo que as vezes vou trocar a espada por um tênis de corrida. XD

Mas se eu arranjar um Chakram, ninguém me segura! ;)


 E uma última coisa sobre fugir: Eu tenho jogado Valkyrie Profile 2 (um jogo de RPG lindo para PS2), e funciona assim: Correr pode salvar sua vida, mas você só avança no jogo e ganha experiência quando luta e vence, mesmo que leve algumas porradas e encare umas quase mortes para isso. No fim você se recupera.

-Miguel

Comentários

  1. Maravilhoso! É claro que me identifiquei... Durante muitos anos eu fugi, não apenas por covardia, mas para evitar que pessoas que eu amava se machucassem. Também fugi por muito tempo por ter tido meu coração partido. Recentemente tenho aprendido com algumas pessoas que lutam sempre - as vezes se ferram com isso - que lutar também é importante e tem seu momento. Sim, budismo é equilíbrio, tomar o caminho do meio tem me parecido uma boa opção. Lutar as vezes não soluciona a questão, mas te faz sentir mais segura, mais forte e mais capaz para a próxima batalha. Não é possível vencer sempre, mas eu desejo VIVER e não SOBREVIVER! Gratidão, porque muito disso aprendi com você... ♥

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  2. Acho lindo ler novos textos seus e pensar em como você amadurece rápido. ^^ Quanto ao tema é meio difícil de não nos identificarmos, pois todos temos um pouco de valentia ou covardia. Tem dias que me pergunto, quando vou tomar jeito e bater de frente nos problemas da minha vida, quando empunharei uma espada e peitarei uma dungeon? Mas não sei como começar. Não é só dizer "vou mudar" e pronto, mudei, é um processo lento e gradativo que muitas vezes oferece mais chances de fuga do que de vitória. Mas se puder me de dicas, me aconselhe, não só uma vez e depois só dois meses depois. ^^

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