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Uma pessoa que te aceite. Uma pessoa que te abrace. Uma pessoa que te ouça. |
O conto
a seguir faz parte da mitologia de Morgan’s, um cenário criado por mim e do
qual eu já postei algumas histórias aqui no blog. Então, caso você não entenda
muito bem algumas estranhezas, mantenha em mente que Morgan’s é uma cidade onde
habitam bruxos e seres mágicos, que tentam se manter em segredo dos humanos comuns
enquanto vivem suas vidas. Essa história é sobre amizade, compreensão e
corações partidos, e para conhecer mais os personagens, basta clicar na guia “Morgan’s”
ali em cima e ver os outros contos. Espero que gostem. :D

O Que Um Garoto Quer,
O Que Um Garoto Precisa.
Savant caminhava em círculos pelo chão de madeira
escura de seu quarto, parando a cada dois ou três minutos para encarar a tarde
ensolarada de verão em sua janela. Era um dia incomum para o clima de Morgan’s,
com todo o sol, calor e pedaços azuis de céu. O jovem encarou mais uma vez a
tela do celular. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem, nenhuma notificação.
Controlou um impulso de atirar o aparelho contra a parede e ao invés disso
colocou-o no bolso e desceu as escadas. Gregory estava sentado em um dos sofás
da sala de estar, descalço, vestindo jeans e camiseta escuros enquanto afiava
uma longa espada. Interrompeu o trabalho ante a aproximação de Savant e soltou:
— Eu consigo literalmente sentir o cheiro da sua
ansiedade, Sav. Vá tomar um banho frio! – Acrescentou em tom de falsa
exasperação.
Savant ignorou a piada e se jogou no sofá em frente
a Gregory.
— Fazem três dias. – Savant soltou as palavras como
se sentisse uma dor imensa – Ele não fala adequadamente comigo há três dias.
Gregory suspirou. Sabia exatamente o que estava
acontecendo. Optou por não se intrometer e apenas tentar ajudar caso fosse
especificamente solicitado.
— Eu preciso de ajuda. – Savant disse encarando
Gregory.
“E lá vamos nós” pensou Gregory baixando a espada e
olhando nos olhos esverdeados do jovem.
— Chora.
— Z, não fala comigo têm três dias. Eu não
compreendo a razão de ele estar me evitando e já estou ficando preocupado. –
Savant desabafou.
— Você não sabe a razão de ele ter se afastado? –
Gregory questionou tentando esconder a surpresa.
— Bem.... Estava tudo normal há três dias atrás...
eu não sei o que poderia ter aborrecido ele. – Mas enquanto falava, a mente de
Savant o fazia encarar que ele talvez soubesse sim, a razão do afastamento de
seu melhor amigo.
— Sav.... Se você não tem ideia do que pode ter
feito o Z sumir, eu sinto muito, mas ainda não posso te ajudar. – Gregory disse
apologeticamente.
— Você fala como se soubesse o motivo e eu
precisasse descobri-lo para obter seu auxilio. – Foi a resposta sagaz de
Savant.
— Você nunca foi burro. É exatamente isso. Agora
pense: o que aconteceu na última semana que possa ter feito seu melhor amigo,
um belo jovem gay de 16 anos, decidir que precisa de algum tempo e distância de
você. – Gregory falava com um sorriso irônico de quem faz uma pergunta óbvia em
um show de calouros. Savant, no entanto, não se incomodou.
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"Just friends" |
— Eu comecei a namorar com a Veronica. – Disse a contragosto
com a voz baixa. – É por isso que ele não tem falado comigo. – Concluiu – Mas o
que é que ele está pensando? Que eu não quero mais ter amigos agora que tenho
uma namorada? Ou ele acha que eu estou roubando a amiga dele? Ou que, sei lá,
não se pode ser amigo do namorado da sua amiga? Eu não entendo o por que disso.
– Savant disse claramente confuso.
— Deusa Mãe, Savant.... – Exclamou. Gregory encarava
o rapaz, balançando a cabeça com incredulidade. Até que ponto a negação podia
nublar a inteligência de alguém?
Gregory se sentou ao lado de Savant e acariciou os
cachos bagunçados do jovem. Talvez não fosse negação. Talvez fosse só
ingenuidade. Encarou os olhos perdidos do jovem e disse a ele o que, até agora,
este não pudera perceber sozinho:
— Z não se afastou de você para puni-lo, Sav, e nem
por causa de alguma regra idiota sobre amizades com namorados. Ele só não
consegue lidar bem com estar perto da pessoa que ele ama, sabendo que ela está
namorando outra pessoa. – A voz de Gregory era suave e sincera como poucas
vezes. Uma gentileza despida de piadas, ironias ou qualquer outra coisa.
Savant estava com uma expressão que mesclava a
completa confusão com um pouco de surpresa. Olhou para Gregory por um instante
enquanto sua mente trabalhava com rapidez para processar o que acabara de
ouvir, imaginando as possíveis implicações disso. A verdade é que ele já sabia.
Ele sabia, por diversas razões, que Z não detinha apenas sentimentos amigáveis
por ele. Mas alguma parte dele preferia pensar que não era tão importante. Era
só alguma coisinha, algo que não interferiria de verdade na amizade dos dois.
Então pensou em como Z poderia estar se sentindo. Savant era um empata, ele havia
vivenciado a dor de diversas pessoas ao longo do último ano, quando descobriu
esse poder. A ideia de que ele poderia estar fazendo seu melhor amigo sofrer o atingiu
com força e o fez sentir-se mal. O pensamento de que talvez nunca mais pudesse
partilhar momentos felizes com Z o fez fraquejar. A frase seguinte escapou por
seus lábios quase que procurando seu sentido:
— Mas.... Ele é o meu melhor amigo... – Sentia um
vazio no estomago e uma vontade tola de chorar. Não entendia por que.
— E você é o melhor amigo dele, Savant. Essas coisas
as vezes se confundem. Não significa que precise terminar assim. – Gregory
tentou tranquiliza-lo. Aparentemente toda a genialidade de Savant não o
preveniu para a possibilidade de que sua doçura e companheirismo pudessem ser
apaixonantes. Seria cômico não fosse o fato de Gregory estar lidando com
sofrimento adolescente há dias por conta disso.
— O que eu faço, Greg. Como eu posso ter meu amigo
de volta?
— Seu amigo nunca se foi, ele mora há quinze minutos
daqui. Vá falar com ele. – Respondeu enérgico.
— Ele não quer falar comigo. Eu fui estúpido,
completamente insensível.... Eu... — Gregory o interrompeu.
— Ele quer falar com você, eu tenho certeza. Provavelmente
sente mais a sua falta do você é capaz de imaginar, e está lutando contra o
impulso de vir até aqui neste instante, achando que isso atrapalharia o seu
namoro. – Gregory estabeleceu com a certeza da experiência – Além disso ele é
amigo da Veronica, deve estar se sentindo extra culpado por cobiçar o namorado
dela.... – Ponderou – Eu não sei como vocês podem se acertar, mas não houve uma
briga, houve? Vocês só precisam de algum tempo conversando para se entenderem.
— E se ele não quiser mais ser meu amigo? – Savant
perguntou com medo.
— Ele com certeza está pensando a mesma coisa sobre
você, Savvy. – Greg respondeu de forma singela.
Savant se levantou e esfregou os olhos para livrar-se
de uma ou outra lágrima:
— Eu vou até a casa dele. Quero ter essa conversa o
quanto antes. – Disse com maior firmeza do que realmente sentia.
— Espere, leve isso com você. – Gregory desapareceu
envolto em sombras, se transportando para outro lugar. Voltou em alguns
segundos carregando uma sacola com chocolates e duas latas de suco gelado. –
Vocês são jovens demais para beber, então vamos ter de nos contentar com os
benefícios do açúcar.
— Obrigado, Greg. – Savant agradeceu abraçando
rapidamente o guardião e saindo pela porta da frente.
Gregory não gostava de Veronica e não fazia questão
de disfarçar isso. Saber que o romance com a garota estava provocando problemas
para Z e Savant apenas o fazia gostar menos dela. Secretamente torcia para que
Savant descobrisse alguma fluidez em sua sexualidade que permitisse a Z e ele
ficarem juntos. Senão, que pelo menos continuassem bons amigos. Os dois faziam
bem um ao outro, e todo garoto precisa de um melhor amigo. Gregory voltou a
amolar sua espada. Subitamente sentiu muitas saudades de seu primo, Joshua.
***
A distancia entre a casa de Savant e Z não era muito
longa e em menos de quinze minutos de caminhada, Savant se aproximava do
gramado de seu melhor amigo. Ao decorrer do percurso Sav repassou mentalmente
como teria essa conversa. Decidiu que era importante respeitar o fato de Z não
ter lhe falado sobre seus sentimentos, e só discutir isso caso o amigo
trouxesse o fato à tona. Seria sutil. Até que isso fosse feito ele iria apenas
lembrar a Z que eles eram amigos e que nada mudaria isso. “Parece fácil quando é uma ideia abstrata... Quero ver a execução. ”,
pensou consigo. Nervoso e inseguro com o que diria exatamente, Savant tocou a
campainha da casa cor de creme onde Z morava com a mãe e o padrasto.
Nenhuma resposta.
Savant tocou mais uma vez. Nada.
A essa altura ele questionava se Z estaria o ignorando
ou se algo poderia ter acontecido. Afinal, era Morgan’s. Ele podia estar sendo
atacado por um demônio Louva-Deus gigante. Definitivamente Z poderia estar em
perigo. Era motivo o bastante para ver se a porta estava trancada e... Não
estava. Savant entrou e foi em direção as escadas que davam acesso ao segundo
andar, onde ficava o quarto de Z. Antes mesmo de pisar no primeiro degrau, se
deparou com seu amigo o encarando na parte de cima da escada. Z estava
descalço, vestindo uma camiseta de manga longa e os shorts curtos de seu pijama
de algodão branco. Seu cabelo loiro raspado dos lados estava bagunçado e os
olhos vermelhos de quem acabara de acordar (ou chorar) o davam um aspecto
carente.
— Hey, Z. Eu trouxe chocolate... – Começou Savant em
tom de “me desculpe pela invasão domiciliar” – Nós podemos conversar...?
— Hey, Sav. Sobe, minha mãe está no trabalho. – Z
respondeu de maneira branda, mas, naquele momento, tudo dentro dele se
revolvia. Ele não esperava ver Savant. E não sabia se era capaz de conversar
naquele momento.
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"Tem uma tempestade acontecendo e ninguém irá ouvir" Imagem de Gabriel Picolo. |
Os dois caminharam em silencio e entraram no quarto
de Z. As paredes azuis claras, cobertas por pôsteres de cantoras pop, e um
mural com fotos dele com os amigos, eram as coisas que mais chamavam atenção.
Savant se deu conta de que poucas vezes havia estado ali. Normalmente era Z
quem visitava sua casa. Quando a mãe decidira expulsar o garoto por este
revelar a ela que era gay, Gregory acolhera o jovem e então Sav passou a viver
com o melhor amigo, até que a mãe deste tomasse uma posição mais tolerante.
Savant notou por um instante o quanto ele havia incorporado Z a sua vida.
Sentaram-se na cama de solteiro de Z, lado a lado. Savant abriu as latas de
suco e desembrulhou a barra de chocolate antes de falar. Z apenas mordeu um
pedaço do doce e aguardou, sem encarar o amigo. Savant pigarreou e começou:
— Ahn... Você... Está... – “Tudo bem, a execução parece mais difícil do que o esperado”,
pensou consigo enquanto tentava encontrar palavras. Sabia que Z não estava bem.
Por mais que tentasse controlar seus poderes empáticos, conseguia sentir a dor
de seu amigo. Optou por tomar outro rumo. – Z, por que você não tem falado
comigo?
“Sutileza
zero, Savant. Você é um asno! ” Insultou-se mentalmente.
— Nada a ver, Sav. Eu tenho falado. Só estou meio
ocupado. – Z mentiu, falando rápido e com a voz muito baixa.
— Tá. Você tem “falado”. Respostas monossilábicas.
Nós não temos uma conversa de verdade há três dias, Z. – Savant havia conseguido
começar, agora as palavras fluíam. – Além disso são duas da tarde e você está
de pijama, que é que tem te ocupado? – Deixou a frustração pelos últimos dias
se exibir.
— Nós somos melhores amigos, conversamos todos os
dias. Você quem me ensinou isso, Z. – Savant continuou mais calmo – Eu não
gosto quando nós não nos falamos.
Z bebeu um gole de suco e encarou a parede mais um
pouco sem saber o que dizer. Era difícil encontrar palavras.
— Olhe para mim.... Por favor. – Savant tocou o
ombro de Z chamando por sua atenção. – Você é meu melhor amigo, se tem algo
acontecendo você pode falar comigo. Qualquer co... —A fala de Savant foi
interrompida. No segundo que Z virou-se para ele e o encarou nos olhos Savant
sentiu.
Embora estivesse progredindo em lidar com seu novo
poder, a empatia de Savant as vezes saia do controle diante de emoções muito
fortes ou contato físico. Colocar sua mão sobre o ombro de Z e encontrar seu
olhar fora mais do que o suficiente para que Sav fosse invadido pelas emoções
do amigo. E foi doloroso. Fisicamente doloroso. A primeira sensação foi a de
receber um soco no estômago. A seguinte foi como se estivesse muito frio e Savant
sentiu um nó na garganta do tamanho de um punho.
— Savant! Você está bem? – Z se assustou ao ver o
amigo se encolher com os braços em volta de si num reflexo, como se estivesse
com dor.
Sem condições de continuar a falar Sav afastou-se do
amigo e fez força para não chorar. Ele se sentia só, culpado, envergonhado e
triste. Levou algum tempo para Savant bloquear as emoções de Z, que o olhava
preocupado, e mesmo quando o fez elas ainda pareciam ressoar em seu corpo. Ele
se recusava a deixar que seu amigo se sentisse daquela maneira. Savant precisou
de toda sua força de vontade que tinha para dizer a próxima frase:
— Não. Fale comigo. – Insistiu.
— Você está machucado? – Z perguntou confuso –
entrou em alguma briga de novo?
— Não importa, Z. – Savant fixava seu olhar no
amigo.
Lentamente Z deixou que as palavras saíssem:
— Não é sua culpa, Sav. Eu só... não queria sentir
do jeito que me sinto. Não queria ser do jeito que eu sou. Eu não estou feliz
com isso.
— É por causa de mim? – “Dane-se a sutileza” pensou Savant.
— Eu já disse: não é sua culpa. – Z não queria que
Savant se sentisse culpado, o garoto não fizera nada de errado.
— Não é, mas ainda assim é por minha causa, não é
mesmo? – Savant estava decidido a por tudo as claras. Pior do que se sentiam
nenhum dos dois poderia ficar.
— Me desculpa, Sav. – Z já não se sentia capaz de
segurar as lágrimas. Sabia que estava na iminência de perder seu melhor amigo.
Mais uma vez. Assim como perdeu Jonathan por confidenciar a ele que era gay, ia
perder Savant por ter se apaixonado por ele. Z – Eu.. nã-não queria!
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"Eu não quero ser assim. Eu não quero me sentir assim." |
Z soluçava e chorava, nem mesmo terminou a sentença.
Se sentia envergonhado por se colocar numa posição de tão grande exposição. Savant
provavelmente sairia correndo dali. Não havia razão para se tentar dizer
qualquer coisa a um gay chorão e descontrolado, foi o pensamento que passou
pela cabeça de Z. Então ele sentiu, enquanto cobria o rosto com as mãos, os
braços de Savant se fechavam a sua volta. Ele se deixou envolver pelo abraço
quente de seu melhor amigo e chorou até que não houvesse mais lágrimas para
despejar. Depois de alguns minutos se acalmou e então Savant o soltou com olhos
tão vermelhos quanto os dele. Sav foi o primeiro a falar:
— Z... eu não sou o Jonathan. Eu não vou abandonar
você por você ser quem é. Eu achei que você já tivesse entendido isso.
— Alguns dias eu sinto que eu sou uma pessoa
horrível. Eu me sinto tão confuso, tão perdido... eu tenho tanto medo, Savant.
Medo de ser deixado para trás, medo de que ninguém nunca vá ficar ao meu lado.
Medo do que eu sinto por.... Medo que esses sentimentos afastem as pessoas de
mim. – Não conseguira dizer que tinha medo de amar Savant, não como seu amigo,
mas de outra maneira, e que isso fosse fazer com que seu amigo se afastasse. Z
se sentia doente.
Era claro para Savant que a capacidade de Z de
vivenciar os próprios sentimentos era maior do que a dele. Mesmo com todos
esses medos, Z não se deixava abater. Ele conseguiu agir normalmente nos dois
primeiros dias nos quais Veronica e Savant estiveram juntos. Além de todo o
tempo antes disso enquanto apoiara Savant, quando este percebera que estava se
apaixonando pela garota. Z era mais corajoso do que sabia e isso fez Savant
sentir-se corajoso também. Ele precisava lembrar a Z algumas coisas.
— Eu não tenho medo de nenhum dos seus sentimentos,
Z. Você pode confiar em mim para dizer o que quer que seja, para sentir o que
quer que seja. – Savant tentava ser o mais claro possível ao continuar. – Eu
não temo de nada disso, Z. Tenho a mais
plena certeza de que você é querido e de que nunca ficará sozinho. E eu estarei do seu lado, por que você é meu
melhor amigo e eu amo você. Eu realmente amo. Para mim você é parte da minha
família. Você entende isso?
Z balançou a cabeça afirmativamente:
— Obrigado, Sav. Significa muito. – E realmente
significava o mundo ouvir aquilo. Ouvir de Savant, que mesmo sem saber se seus
sentimentos eram certos, ele não seria abandonado, era tudo o que Z precisava.
— Não importa que você não se sinta uma boa pessoa
porque eu sei que você é a melhor pessoa que eu conheço. Você é corajoso,
forte, gentil. Você é capaz de aceitar as pessoas sem julga-las e perdoa-las
quando elas erram, sem guardar nenhum rancor. – Savant não sabia ao certo como
Z não conseguia enxergar tais coisas em si mesmo, mas isso o fazia lembrar algo
que Gregory dizia sobre as pessoas nem sempre saberem suas próprias medidas,
quão realmente boas ou más eram. – Se for preciso te lembrar disso todos os
dias, então eu vou. Você não precisa se isolar por sentir que não é bom o
bastante, você é. E mesmo que não fosse, você é o cara com o qual eu divido
tudo de mim. Meus segredos, meus pensamentos, minhas piadas idiotas. Eu preciso
de você, Z. Eu preciso do meu melhor amigo.
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Então o medo de Savant voltou e o fez questionar....
Talvez Z é quem não precisasse dele e fosse estar melhor mantendo sua
distância.
— E eu não tenho planos de deixar você. Eu entendo
se você precisar que eu me afaste, mas estou deixando claro que eu não quero
isso. – Encerrou com sobriedade.
— Savant, eu também preciso de você. Você me salvou,
mais de uma vez. Você é o primeiro amigo que eu fiz de verdade, sem precisar
esconder quem eu sou. As vezes é difícil achar que eu vou perder você. Eu
também... eu também amo você. – Pronto. Havia dito. Em voz alta, na frente
dele. – Mas eu não quero ser um peso, ou ser o cara chato e ciumento que impede
o amigo de ter outras amizades, ou de namorar alguém que ele realmente gosta e
faz ele feliz e..... Você entende o que eu quero dizer, Sav? Eu tenho medo que
se você for feliz o bastante, você não vá mais precisar ou querer me ter por
perto. Você vai ter outra pessoa para jogar Mortal Kombat com você, para fazer
compras, com você, e eu só não vou me encaixar.
A verdade era que Z não havia se dado conta de que
era essa a maior razão de sua tristeza, até aquele exato momento. Só de frente
com Savant é que conseguira perceber que passara três dias sentindo falta do
amigo e que sua dor era a sensação de que iria sentir aquilo para sempre.
Savant se aproximou e sentado ao lado de Z o abraçou pelos ombros. Aquele
abraço o colocava no presente. Aqui e agora, ele não se sentia sozinho, tinha
um amigo o acolhendo e ouvindo seus temores e dúvidas. Z já se sentia melhor.
— Vem, levanta. – Disse Savant puxando o amigo. –
Vamos para minha casa agora jogar videogames o resto da tarde. Não importa quem
entre ou saia da minha vida, você ainda é meu player 2 oficial. – Estabeleceu
sorrindo – E não importa quão feliz ou triste eu seja, eu ainda vou querer ter
você para partilhar o que eu vivo.
Z abriu um largo sorriso e foi em direção ao guarda
roupa pegar algo mais aceitável para se vestir ao sair de casa as três da
tarde. Enquanto o amigo se trocava, Savant trabalhou mentalmente para dizer a
última coisa que precisava para que essa conversa chegasse ao fim de uma vez
por todas:
— E Z... não tem nada de errado com o que você
sente. – Savant sentiu seu rosto esquentar diante do que estava prestes a
dizer. Mesmo que fosse verdade, ainda era embaraçoso. – Se fosse questão de
escolha, se eu pudesse simplesmente decidir... eu amaria você do jeito que você
merece. Eu faria você feliz. Mas eu não sou capaz de fazer isso acontecer. Eu
espero que eu possa ser seu melhor amigo, e te dar o melhor que eu posso com
isso. – Savant achava estranho que sua sexualidade e suas emoções não pudessem
caminhar juntas.
Não tinha atração por garotos, nunca se apaixonaria
por Z, embora o amasse. Estava apaixonado por Veronica e isso era claro para
ele. Ela o fazia sentir algo que nunca havia experimentado antes, como se fosse
ser feliz até dissolver. Mas embora se envergonhasse em admitir, tinha certeza
que se pudesse escolher, optaria por seu melhor amigo, para ter sentimentos por.
Sabia que ele nunca o machucaria, e Veronica o confundia, além de Gregory
parecer não gostar muito dela. Z por sua vez, ouviu o que Savant dizia enquanto
estava de costas para ele, vestindo sua calça jeans e sorriu. Isso não resolvia
toda a bagunça de sentimentos dentro dele. Ele não sabia ao certo se estava
contente com o que ouviu ou triste com sua sorte, mas se permitiu ficar feliz.
Tinha um amigo com quem passar aquela bela e incomum tarde ensolarada, e esse
amigo fora capaz de encarar sem tudo o que ele carregara em seu coração nos
últimos dias. Naquele instante isso bastava.
— Obrigado. – disse segurando Savant pelo braço
enquanto saiam do quarto – Ainda assim eu não vou te deixar vencer.
— Nesse caso, vamos jogar algum jogo de cooperação.
Eu não quero perder nada hoje. – Respondeu Savant sabiamente.
— Você é realmente esperto. – Brincou Z.
— As vezes.... Tem dias que eu sou bem estúpido. –
Savant respondeu em tom casual.
— Todos temos nossos dias.
— Já que o temos, ostentemos. – Savant respondeu
tirando o celular do bolso. Abraçou o amigo e tirou uma foto dos dois, sorrindo
juntos. – Essa é material para ser postado. – Comentou sorrindo.
Savant raramente fazia uso de redes sociais, mas
sabia que Z as adorava. E enquanto caminhavam em direção a casa de Savant, mais
uma foto era colocada na rede, com a legenda: “Todo garoto precisa de um melhor
amigo. #TardeDeJogos #ComEleEuNuncaPerco. ”
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High Five, Bro. ;) |
- Miguel
Alan, só você pra me fazer chorar desse jeito! Adoro os seus textos E JÁ QUERO VERSÃO FÍSICA DE TODOS ELES, OUVIU BEM???? Hahahhahahaha Te amo! <3
ResponderExcluirNão consegui formular um comentário coeso e bonito, mas eu gostei e vou comentar dizendo que gostei porque gostamos de feedback, feedback é o que há.
ResponderExcluirDefina: tom de "me desculpe pela invasão domiciliar. Com exemplos práticos, por favor. Grata.
P.S.: Eu tenho certeza que eu sou o Gregory.
Por favor, coloque o gadget do google friends connect para que eu possa seguir teu blog! obrigado
ResponderExcluirEu quem agradeço, caro anônimo! O Gadget já foi colocado alí do lado direito. ;) Por favor, comente mais. :D
ExcluirAlan, que texto incrível foi esse!? Estou perplexo! Depois de passar a maior parte das minhas férias tendo fome e sono como sentimentos mais profundos, me deparo com esse seu texto.
ResponderExcluirPS: Vou querer a versão física quando ela for publicada e com um autografo pra quando você for famoso