Um Lugar Violento


"Tudo é duro, brilhante e violento. tudo o que sinto, tudo o que toco. Isso é o inferno."

Um Lugar Violento

O mundo é muito violento. As luzes são fortes demais e a escuridão é tão densa que é como se nunca mais fôssemos enxergar de novo. Não há meio termo. Os sons, os gostos, os afetos, os desafetos, as tristezas, nossa busca vã e incessante por certezas e estabilidades firmadas sobre tudo o que é incerto e instável, tudo isso nos violenta. 

O mundo é muito violento, e eu sou muito frágil, eu tento me esconder dele, eu tento me esconder nele, tento me imergir nas propostas de prazer e alegria que ele oferece e quando o prazo destas acaba, eu volto a tentar me defender. O mundo é revolto, tão imenso e tão tumultuado com seus acontecimentos... eu perco meu equilíbrio e repito uma dança de excessos tentando resgata-lo. Jejum, ou gula, isolação ou constante companhia, o celibato ou a volúpia desenfreada, a apatia total ou a ira fumegante, me parecem ser as únicas opções e pouco a pouco eu me torno tão violento quanto o mundo.

"Eu não sei como viver nesse mundo se essas são as opções" - Buffy Summers 

O mundo é muito violento. Quando outros são feridos eu sinto como se eu mesmo tivesse sofrido o ataque, e algumas vezes eu demoro mais a me recuperar do que eles mesmos. A nossa existência é muito sofrida. Temos o medo: tememos deixar de existir, tememos nunca encontrarmos algo que nos torne inteiros, tememos perder aquilo que encontramos e nos dá a sensação de felicidade. Temos a dor, pois quando a realidade se abate sobre nós ela dói. Somos lembrados de que tudo é inconstante, que nossos confortos são ilusórios, que reais ou não, nossos medos afetam nossa mente e nossos sentimentos e isso nos faz sofrer. É.... O mundo é muito violento.

Fúria. 

Mas o mundo não nos comanda, nem nos define, não por inteiro ao menos. O mundo não tem poder sobre tudo o que somos. Ele nos atrai e nos afasta, nos revolve, nos desafia, nos acalenta, nos satisfaz, nos enfraquece, nos vicia e nos maravilha, mas nós podemos nos negar a pressão do mundo. Podemos encontrar um caminho que nos impeça de ceder ao que ele nos empurra. Nossa mente não é subordinada ao mundo. É quase como beirar a loucura, mas a realidade não é tudo que temos. Temos sonhos, temos imaginação e em algum lugar em meio a eles temos paz, pois vivemos no mundo, com nossos corpos a mercê dele, mas com espíritos que podem ser livres.

E quando eu aprender a não ceder a meu ego, que apenas busca saciar seus desejos constantes e intermináveis, quando aprender a não ser escravo de meu orgulho, de meus temores e a não reagir a todo estímulo externo como se essa fosse a única forma de existir, então estarei um passo mais próximo da paz. Quando meu sorriso não depender de me agradarem ou reconhecerem, eu estarei um passo mais próximo deste lugar. Quando eu puder encarar a violência do mundo sem me abalar com ela e lutar contra ela sem deixar meu caminho, apenas a olhando nos olhos e sabendo que ela não é eterna, então estarei mais perto do que almejo ser... não ser. Uma unidade, com o equilíbrio entre as multiplicidades.


Só há paz no equilíbrio, mas ele não está em nenhum outro lugar senão dentro de cada um. Há um lugar dentro de cada um de nós, um santuário, onde nenhum dos ataques externos pode penetrar, o segredo é descobrir como chegar lá. O mundo é violento, e temos de conviver com isso, mas da mesma maneira que não podemos alcançar todos os lugares do mundo, há lugares em nós que nada do mundo pode alcançar.


-Miguel

Comentários

  1. Singing my life with his words.
    To me perguntando quando te autorizei a falar de mim em público assim, não lembro disso não.

    (que tiro esse texto, pô, não to preparada)

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